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Crítica | Nicole Dollanganger: “Married in Mount Airy”

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Nicole Dollanganger tem um jeito todo especial de fazer música. Enquanto os arranjos se projetam de forma diminuta em meio a ambientações etéreas, vozes adocicadas contrastam com a força dos versos, sempre intimistas, confessionais e, na maioria dos casos, devastadores. São canções que partem de experiências românticas e conflitos pessoais vividos pela cantora e compositora canadense, mas que a todo momento se aprofundam na construção de diferentes personagens e narrativas tortas, conceito que volta a se repetir no doloroso repertório montado para Married in Mount Airy (2022, Independente).

Os dias são longos, por favor não vá / Eu não posso confiar em mim para ficar sozinha / O sol bate forte, meus pulsos queimam no fogão / Neste solitário motorhome de 1978“, canta em tom de súplica na já conhecida Runnin’ Free. Originalmente lançada em novembro do último ano, as canção funciona como uma boa representação de tudo aquilo que Dollanganger busca desenvolver ao longo da obra. É como uma extensão natural dos antecessores Natural Born Losers (2016) e Heart Shaped Bed (2018), porém, partindo de uma abordagem ainda mais dolorosa e tocante, indicativo da completa entrega da artista canadense.

Partindo das memórias de diferentes personagens, Dollanganger interpreta o papel de noiva, dona de casa e viúva para mergulhar em um ambiente doméstico consumido pela solidão. São canções empoeiradas que parecem saídas de algum registro esquecido dos anos 1960, mas que dialogam de maneira bastante sensível com o período de isolamento vivido nos últimos anos. De fato, parte expressiva do material foi concebida durante os momentos mais críticos da pandemia de Covid-19, direcionamento que se reflete no reducionismo dado aos arranjos que mais uma vez contam com produção assinada por Matthew Tomasi.

Terceira composição do disco, Dogwood funciona como uma boa representação desse resultado. Misto de oração e doloroso retrato do desespero vivido pelo eu lírico, a canção ganha forma em meio a violões enevoados e ambientações ocasionais, reforçando a angústia que consome o repertório de Married in Mount Airy. “Ó Senhor, por favor, não o tire de mim / Eu preciso dele, você sabe que eu preciso“, clama. Claro que esse forte aspecto emocional não interfere na construção de faixas que transitam por diferentes temáticas e resgatam a habitual morbidez que há tempos embala as criações reveladas por Dollanganger.

Exemplo disso fica bastante evidente em Whispering Glades. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a faixa trata sobre os efeitos da manipulação em um relacionamento de forma tão dolorosa e visceral quanto libertadora. “Quando você partir, querido / Haverá todos aqueles de coração quebrados / Mas eu terei um sorriso pintado em meu rosto“, canta. O problema é que muitas dessas canções, mesmo as que melhor detalham o refinamento poético e evidente entrega de Dollanganger, parecem presas a um mesmo conjunto de ideias e temas instrumentais que se repetem de forma exaustiva.

Do momento em que tem início, na autointitulada canção de abertura, até alcançar a derradeira I’ll Wait for You to Call, Married in Mount Airy pouco evolui musicalmente, esbarrando em conceitos testados pela artista nos antecessores Natural Born Losers e Heart Shaped Bed. O próprio Tomasi, que assina parte expressiva dos arranjos, parece ter atuado de forma menos previsível no trabalho como produtor do ainda recente Preacher’s Daughter (2022), último disco de Ethel Cain. São composições que invariavelmente convencem pela forte vulnerabilidade de Dollanganger, mas que tendem ao desgaste a cada nova audição.

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